18.3.14

Eu O Declaro Meu Inimigo - ...Nem Mestres (2013)



Demorei um bucado pra falar desse disco por aqui, neste seboso espaço do degrau debaixo da cantiga nacional. Muito pelo fato de ficar ouvindo e apreciando o registro da forma que eu achava que deveria ser, seja dentro de ônibus lotado ou em momentos de descanso e leitura. A banda em questão é a recifense Eu O Declaro Meu Inimigo, que conheci através do trabalho anterior "Música Pode Ser Perigosa" e que no final do ano passado soltou o incrível "...Nem Mestres". 
A bolacha cospe-fogo abre com a cantiga "Tripalium", hardcore/punk oitentista dançante que fala da relação opressora do dinheiro, patrão e a negação desses padrões sociais estabelecidos. Em seguida o pitoco do play pula para "Mancha Negra", artefato sonoro carregado de ódio e raiva em ritmo de hardcore acelerado, com um refrão realista daquilo que é visto no cotidiano da grande massa explorada. "Benedetti" passa uma mensagem direta de resistência e luta pelos sonhos, contando com partes de poemas de Mario Benedetti. Em "Máquinas do Sensível", uma introdução bem legal de um cabra falando de movimento punk é a ponte para uma cantiga feroz que fala da exclusão pela seleção, realidade próxima de uma maioria que sofre com a discriminação, preconceito e falta de perspectiva, letra muito foda. Em "Fortaleza de Incertezas" imaginei o pessoal do Crass lendo a letra e derramando lágrimas pela face, tendo a certeza do dever cumprido. Em "Ni Un Dia a Más", a cantiga é gritada por uma voz feminina e escrita em espanhol, falando desse universo nojento da rotina do trabalho. Por fim o disco encerra com "Morte Motor", que possui a melhor letra e uma pegada ultra-acelerada. Ressalto que embutida nesta faixa está uma linda versão de "Drinking and Driving" do Black Flag, ou seja, compensa esperar e ouvir essa belezura de som. 
A linda capa do disco é de responsabilidade de Wendell Araújo, integrante da banda e que possui um portfólio magnífico que pode ser visto aqui. Sei também que o material físico (que eu ainda nón tenho) possui uns trampo de uma galera linda que passa por Fernando JFL (Cätärro) e termina nos incríveis do Imarginal (eu ainda vou rabiscar parte do meu corpo com esses cabras bons). Sonoridade impecável, referência ao Sin Dios, hellcife bem representada e aqui está um dos melhores discos lançados no subterrâneo nacional, se você ainda não conhece, a vida está aí pra corrigir essas falhas e lapsos do cotidiano corrido, mas lembre-se: a vida é bem mais que ordenado, 40 horas semanais, automóvel e status. O disco transmite isso através do punk político e sem massagem, uma boa oportunidade pra entortar mais ainda a mente dentro desse submundo de resistência. Ouça!


Página da banda: Eu O Declaro Meu Inimigo

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