25.2.14

Demônio de Garoa, Axl Rose do Cerrado & Hardcore de Lavar a Alma

Olar galera doida que deterioram as vistas lendo as imundices digitadas aqui neste tosco espaço da cantiga subterrânea nacional, como de costume sempre que rola algum forró do gerso aqui nesta arborizada capital goiana eu tento relatar as visões do quengal e de todos os acontecimentos que giram em torno de minha pessoa.
Bom, era sábado, dia de descanso das obrigações mas não das diversões, e como no dia anterior eu tinha marcado com um pequeno número de amizades para uma rodada de bebida, hamburgada e som de vinil, o esquema foi concretizando logo após o almoço, depois de uma infame chuva que despencou em Goiânia e que quase estragou o rolê da galera sem jura. Passei no hipermercado, comprei os ingredientes e fui para o QG localizado nas imediações do famoso acidente do Césio 137, só por aí a emoção já deixava a veia do pescoço estufada. Muito papo bom sobre música, audições em bolachas analógicas que passavam por Tim Maia, Cartola até chegar em Rage Against The Machine e Eddie Grant. Hambúrguer caseiro da melhor qualidade que deixou todos arregados, cerveja gelada calibrando os bonitos e por fim já estava escuro e era hora de ir de encontro ao Martim Cererê.
Com a chuva fina e constante e quase uma semana sem meu corpo chegar perto do chuveiro, minha envergadura virou uma mistura fedida de merda seca e macuco molhado.
Adentrei no templo rockista goiano e chegara a información de que o conjunto idoso de hardcore Ímpeto já havia bailado. Imaginei o show repleto de adolescentes alvos com camisolas de Legião Urbana, Raul Seixas, Guns n Roses, Avengend Sevenfold, Radicais Livres e afins, histéricos com a performance de seus nobres professores (lembrando que a banda ganhou uma votação feita pela organizadora do evento em que  centenas de alunos votaram na banda, e que eu tenho a plena certeza de que 99% destes que buzinaram com o mouse não sabem sequer o significado da palavrita Ímpeto).
Encontrei muita gente pra conversar, e por alguns instantes me senti como um papagaio na chuva, conversando mais que o homem da cobra. Tá, dei uma pausa na lábia de malandro e fui degustar da bebida alcoólica do local, e sem viajar na onda do pinóquio, minha carteira incrivelmente começou a descer rios de lágrimas ao enxergar uma latita de kaiser sendo vendida por 4 malandros e a heineken por 5 pilas. Fui na kriptonita por ter mais
álcool e achar que o preço era menos injusto. Passado o déficit do ordenado, chegou aos meus ouvidos que a banda Baba de Sheeva iria subir aos palcos, e eu com algum lapso e resguardando a minha luta contra uma gripe infernal, preferi ficar ouvindo alguma coisa dos cabras do lado de fora do teatro. Este período serviu para que eu ficasse observando o público, que entre sebosãns e molecada com visual de pique nique no vaca brava, avistei um raparigo que deveria ter uns 50 anos, epiderme enrugada bem parecida com pele de patinha de arara e um majestoso visual de Axl Rose da atualidade (só que coado com meia calça), isto por si só já valeu todo o rolê imundo que eu programara uma semana antes.
Lá de dentro do teatro (quente e fedendo catinga de gente sebosa) saía alguns acordes e era a vez do hardcore melódico da goianiense Coerência. Bom, eu estava muito curioso pra ver a formação nova, e a primeira impressão que ficou é de estranhamento por um vocal diferente, tonalidade de guitarra também foi uma novidade e a bateria com uma pegada mais seca. Era a primeira apresentação dos cabras com a nova formação, e tirando o nervosismo natural de uma inédita apresentação, gostei do que vi e acho que a banda ainda tem uma boa caminhada a percorrer, fazendo sempre o corre honesto e sincero, com alguns ajustes e entrosamento natural com o passar do tempo. 
Ligeiramente corri até as redondezas do local pra pegar um capacete de obra que havia tomado de empréstimo com Lindosmauro, peão da Moreira Ortence que bate ponto todos os dias no boteco Pepe Legal, localizado nas imediações da Vila Viana. Peguei o apetrecho
pois estava na hora da Ressonância Mórfica subir ao palco e mostrar o grindcore mais brutal feito no Centro-Oeste. E meu amigo, que apresentação violenta, quebrei o EPI (Equipamento de Proteção Individual) em pedaços e senti na pele o que representa um acidente de trabalho. Se a banda de cantiga extrema fosse do eixo sudeste ou de algum esquema de Brasília, com certeza as atenções por aqui seriam mais valorizadas. No show, além das músicas próprias como as conhecidas "Teratismo" e "Dergo Death Grind" que fizeram a negada rodopiar com os cascos de suas moleras no chão, uma linda e cabulosa homenagem ao Napalm Death foi feita através da cantiga Unchallenged Hate e que fez alguns dos muitos presentes marejarem os olhos de lágrimas. Marcão sempre se destacando com o seu gutural tratado com casca de romã e danças que parecem que o cabra tá afastando o povo pra entrar dentro do ônibus em ponto lotado de terminal. Até então tinha sido o fato mais foda da noite, além claro, de uma jovial que conseguiu aplicar todo o seu gorfo acumulado do dia na perna de outra garota, perfumando o ambiente e aprimorando o odor que já estava forte dentro do teatro.
Mais papos, mais cervejas, muita gente bonita, idas infames ao toalete seboso e alagado de mijo podre, e numa dessas subidas ao wc topei com o Jão e o cumprimentei como se o cabra fosse meu amigo de miliano, bebura inconsequente que já afetava o meu consciente. Voltei pro ambiente externo que estava cheio, mas que poucos queriam me beirar por conta do forte odor de catinga de bosta impregnado em minha roupa. 
Com muita dificuldade entrei no teatro, pois estava na hora da principal banda da noite bailar de forma rápida, era a paulista e lendária Ratos de Porão, num calor infernal e uma expectativa enorme. Entre vários clássicos tocados, a banda abriu com "Igreja Universal", passando por Mad Society, Suposicollor, Sofrer, Crocodila, Amazônia Nunca Mais e alguns
covers e outros clássicos. Pulei, suei, gritei, fiquei pelado, caguei e joguei tolête no povo, entrei na roda e fiquei completamente podre e esgotado com um dos melhores shows do Ratos que eu vi. Tirando algumas partes de discurso desnecessário do Gordo e do megastar-homem-limpo Juninho chutando a galera que estava ali pra pogar e se divertir, a apresentação foi bem foda e emocionante. Ver, ouvir e gritar hardcore é meio que exalar todos os problemas da semana que passa pelas frustrações de empregos ruins, ônibus superlotados e polícia que oprime de forma violenta/preconceituosa. Toda essa problemática é esquecida e a amizade, revolta e resistência ganha vida e espaço.
Quanto a organização, não tive muitos problemas então não posso falar mal, apenas achei que poderia ter alguns banheiros químicos à disposição e que o preço da cerveja estava cara, mas é aquilo, pisou fora de casa é ter consciência que os preços da diversão não serão agradáveis, por isso que entrei com ampolas de cana no ânus, pra burlar a lei do baculejo do segurança e consequentemente consumir menos cerveja no ambiente. Voltei feliz, com o corpo doído e sem voz para a minha querida residência. Rolê firmeza, obrigada por todas que me proporcionaram este dia inesquecível!


Fotos roubadas do sítio Cigarro & Paçoca

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